PHMetria sem cateter e PHMetria esofágica convencional

PHMetria sem cateter e PHMetria esofágica convencional: Estudo comparativo do desconforto, limitações das atividades diárias e complicações.

PHMetria sem cateter e PHMetria esofágica convencional: Estudo comparativo do desconforto, limitações das atividades diárias e complicações.


Dr. Rimon Azzam, Gabriela Barge Azzam e Ary Nasi

Objetivos

Comparar as pHmetrias sem cateter e a convencional, em relação ao desconforto e limitações nas atividades diárias, capacidade de diagnosticar refluxo gastroesofágico patológico, complicações e custos.

Introdução

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é a condição que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas incomodativos e/ou complicações. A Endoscopia Digestiva Alta e a pHmetria Esofágica são os dois métodos diretamente relacionados ao diagnóstico da DRGE. O primeiro identifica as formas da doença que cursam com esofagite e o segundo diagnostica o refluxo gastroesofágico patológico. O cateter da pHmetria esofágica associa-se ao desconforto nasal e na garganta, e alterações de comportamento nos pacientes. A cápsula da pHmetria sem cateter pode causar dor torácica e complicações. Este estudo foi idealizado pela falta de publicações locais e poucas internacionais, sendo o primeiro estudo brasileiro sobre o desconforto e limitações nas atividades diárias na comparação entre a pHmetria sem cateter e a pHmetria esofágica convencional (com cateter).

Métodos

Essa pesquisa foi aprovada pelo Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa (CAPPesq) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Vinte e cinco pacientes com sintomas típicos (pirose e regurgitação) de DRGE foram avaliados prospectivamente e submetidos à entrevista clínica, Endoscopia Digestiva Alta, Manometria Esofágica e aos dois tipos de pHmetria Esofágica. Em um período inicial simultâneo, a pHmetria Esofágica com cateter foi realizada durante 24 h e a pHmetria sem cateter durante 48 h. Após a retirada de cada método, responderam o questionário clínico específico sobre desconforto e limitações nas atividades diárias. Para cada item do questionário, solicitava-se que o paciente escolhesse um número da escala de zero a dez, de acordo com o grau de desconforto. Zero equivalente à ausência de desconforto e dez ao desconforto intenso. O grau de desconforto foi agrupado em três categorias: leve (escore de 1 a 3), moderado (4 a 6) e intenso (7 a 10). Foram utilizados os seguintes testes estatísticos: teste de proporção bilateral, teste de Friedman e teste de proporção unilateral. O nível descritivo de p<0,05 foi considerado significante.

Grau de desconfortoDiaAusência
n(%)
Leve
n(%)
Moderado
n(%)
Intenso
n(%)
Total
n
p1
Interferência nas atividades rotineiras1º dia
2º dia
3 (12,0)
16 (64,0)
9 (36,0)
7 (28,0)
8 (32,0)
2 (8,0)
5 (20,0)
0 (0,0)
25
25
0,001*
Desconforto nasal1º dia
2º dia
5 (20,0)
22 (88,0)
9 (36,0)
1 (4,0)
3 (12,0)
1 (4,0)
8 (32,0)
1 (4,0)
25
25
0,002*
Coriza1º dia
2º dia
5 (20,0)
19 (76,0)
10 (40,0)
4 (16,0)
6 (24,0)
1 (4,0)
4 (16,0)
1 (4,0)
25
25
0,011*
Desconforto Cervical1º dia
2º dia
0 (0,0)
17 (68,0)
12 (48,0)
2 (8,0)
5 (20,0)
6 (24,0)
8 (32,0)
0 (0,0)
25
25
0,001*
Alteração alimentar1º dia
2º dia
9 (36,0)
14 (56,0)
5 (20,0)
5 (20,0)
6 (24,0)
5 (20,0)
5 (20,0)
1 (4,0)
25
25
0,011*
Distúrbio do sono1º dia
2º dia
11 (44,0)
17 (68,0)
4 (16,0)
6 (24,0)
2 (8,0)
2 (8,0)
8 (32,0)
0 (0,0)
25
25
0,003*
Preocupação com o equipamento1º dia
2º dia
6 (24,0)
14 (56,0)
6 (24,0)
5 (20,0)
5 (20,0)
4 (16,0)
8 (32,0)
2 (8,0)
25
25
0,003*
Desconforto sem banho1º dia
2º dia
2 (8,0)
25 (100,0)
5 (20,0)
0 (0,0)
3 (12,0)
0 (0,0)
15 (60,0)
0 (0,0)
25
25
0,000*
Constrangimento social1º dia
2º dia
13 (52,0)
23 (92,0)
5 (20,0)
1 (4,0)
1 (4,0)
1 (4,0)
6 (24,0)
0 (0,0)
25
25
0,008*

* Teste de Friedman

Tabela 1 – Descrição e comparação do grau de desconforto no 1º e 2º dia.

Resultados

Vinte e um (84%) pacientes eram mulheres e a idade variou de 34 a 73 anos (média de 52,4). Quinze (60%) apontaram maior desconforto na introdução da cápsula, enquanto 10 (40%) na introdução do cateter (p=0,327). Houve redução do grau de desconforto e limitações nas atividades diárias no 2o dia em comparação ao 1o dia (p<0,05, Tabela 1). Contudo, no 2o dia, um contingente expressivo de pacientes continuou apresentando interferência nas atividades rotineiras (36%), desconforto cervical (32%), alteração alimentar (44%), distúrbio do sono (32%) e preocupação com o equipamento (44%). Treze (52%) apresentaram dor torácica ou epigástrica durante o período total de monitorização. Quando os pacientes foram questionados se houvesse necessidade de repetição dos exames, 22 (88,0%) afirmaram que repetiriam a pHmetria sem cateter e 24 (96,0%) repetiriam a pHmetria convencional (p=0,297). Um (4%) paciente apresentou queda precoce da cápsula durante a pHmetria sem cateter e no grupo da pHmetria convencional não houve nenhuma complicação (p=0,463). Não ocorreram outras complicações. O refluxo gastroesofágico patológico foi detectado pelo método sem cateter em 19 (76%) pacientes e pelo método convencional em 16 (64%) (p=0,355). A cápsula custou US$ 411,53 (uso único) e o cateter US$ 7,84 por uso.

Discussão

As contraindicações da pHmetria sem cateter são esofagite intensa, varizes esofágicas, diátese hemorrágica, anticoagulação, estenose ou obstrução do trato gastrointestinal e uso de marcapasso ou desfibrilador cardíaco. Entretanto, essas condições não representam contraindicações para a pHmetria convencional (com cateter). Complicações da pHmetria sem cateter são perfuração esofágica durante a introdução da cápsula, úlcera esofágica, deslocamento da cápsula para a nasofaringe, aspiração da cápsula para dentro do brônquio e retenção da cápsula em divertículo do cólon.

Conclusões
  1. Não há diferença significante entre o desconforto na introdução da cápsula de pHmetria sem cateter e do cateter de pHmetria convencional;
  2. Durante a monitorização do refluxo, a pHmetria sem cateter proporciona significante menor desconforto e limitações nas atividades diárias em comparação com a pHmetria convencional;
  3. Apesar da melhor tolerabilidade da cápsula, não há diferença significante entre os dois métodos de pHmetria na capacidade de diagnosticar o refluxo gastroesofágico patológico;
  4. Existem importantes contraindicações e complicações da pHmetria sem cateter descritas na literatura;
  5. A pHmetria sem cateter tem maior custo.
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