Dia 27 de setembro é o dia Nacional de conscientização sobre a doação de órgãos, um assunto muito importante, que deveria ser discutido não apenas em setembro, mas durante todos os dias do ano.
A escolha do dia 27 está relacionada com a história de São Cosme e Damião, irmãos gêmeos, médicos, que viveram na Ásia Menor e faleceram em 303 d.C. Eles foram considerados santos por exercerem a medicina sem ganhos financeiros. Registros sobre a vida dos santos dizem que eles foram os responsáveis pela realização da primeira cirurgia de transplante na história da humanidade, implantando a perna de um etíope negro falecido no corpo de um diácono branco. O paciente voltou a ter as duas pernas, uma de cada cor e o procedimento foi considerado um sucesso. A história ganhou notoriedade após ser imortalizada em tela pelo pintor italiano Fra Angelico.
Atualmente existem mais de 50mil pessoas a espera da doação de um órgão e mais de 1000 pessoas a espera da doação de um fígado. Muitos desses pacientes falecem durante a espera. Mas apesar disso a taxa de recusa familiar para doação ainda é de 44%.
Alguns mitos ajudam a perpetuar essa alta taxa de recusa, desde crenças religiosas, deformidade do corpo e necessidade de sepultamento em caixão lacrado, venda de órgãos até a necessidade da família que doou arcar com os custos da doação. Além disso, quem autoriza a doação é a família, que tem que tomar a decisão num momento de dor extrema, de perda de um ente querido. Por isso a importância de conversar sobre doação ainda em vida e deixar claro para os familiares qual o desejo de cada um.
Gostaria de finalizar deixando uma mensagem que reflete que a doação é um ato de amor, é ter empatia com o sofrimento de um desconhecido, é permitir que uma vida continue após a morte de uma pessoa que amamos.
Mensagem de um doador anônimo
“Não chamem o meu falecimento de leito da morte, mas de leito da vida. Dêem minha visão ao homem que jamais viu o raiar do sol, o rosto de uma criança ou o amor nos olhos de uma mulher. Dêem meu coração à uma pessoa cujo coração apenas experimentou dias infindáveis de dor. Dêem os meus rins às pessoas que precisam de uma máquina para viver de semana em semana. Retirem meus ossos, cada músculo, cada fibra e nervo do meu corpo e encontrem um meio para fazer uma criança inválida caminhar. Queimem o que restar de mim e espalhem as cinzas ao vento, para ajudar as flores brotarem. Se tiverem que enterrar algo, que sejam meus erros, minhas fraquezas e todo o mal que fiz aos meus semelhantes. Dêem meus pecados ao diabo. Dêem minha alma a Deus. Se, por acaso, desejarem lembrar-se de mim, façam-no com ação ou palavra amiga a alguém que precisa de vocês. Se fizerem tudo o que pedi, estarei vivo para sempre.”
(Robert N. Test – 1978 – Fragmento e adaptação)
Débora Raquel B. Terrabuio Hepatologista Clínica – HCFM-USP
Fonte: Academia de Medicina de São Paulo